MANIFESTO ANTI GENOCIDA

Para uma precisa definição das continuidades e rupturas históricas necessárias ao processo de neo colonização do Brasil a família Bolsonaro fez sua lição de casa disciplinarmente, entendendo o quanto a História é ameaçadora à manutenção do poder nas pardas mãos de quem o exerce e, por isso, tomando medidas eficazes para bloquear esta via de conhecimento. Em sua lição de casa a quadrilha, ou melhor, a família presidencial conservadora brasileira, examinou minuciosamente não só a história do Brasil no período colonial como também a psicologia social capaz de operar a substituição de nossa racionalidade pelo sentimentalismo novelesco fora do horário nobre da TV. E assim assistimos com comoção à faike facada, que consolidou a vitória presidencial de um candidato que fez sua campanha pelas redes sociais (e se gaba por sua campanha ter sido a “mais barata da história do Brasil) e ao emocionante discurso em libras da primeira dama de vestido elegante que abriu pausa até para uma intima demonstração de carinho entre ela e seu digníssimo, sugerindo uma suposta popularidade de sua imagem aos telespectadores.

Mas voltando ao processo declarado de nossa submissão ao colonizador Estados Unidos da América, foi divulgada a técnica genocida contra os povos nativos que, de acordo com o novo (e ao mesmo tempo caduco) governo, ocupam ociosamente uma grande extensão de terras que podem ser “pacificamente” transferidas para os ruralistas para que estes possam transformar aquelas terras “ociosas” em lucro para o país (leia-se: para a elite que se pensa ariana). Me refiro às duas medidas decretadas pelo atual presidente que (1) retira da Funai (Fundação Nacional do Índio) o poder de reconhecer e demarcar territórios indígenas e que (2) transfere do órgão indigenista para o ministério da agricultura a tarefa de licenciamento ambiental para grandes empreendimentos que possam atingir povos indígenas, submetendo estas duas atividades ao comando da secretaria especial de assuntos fundiários, coordenada pelo pecuarista Nabhan Garcia da UDR (União Democrática Ruralista). A UDR é uma entidade criada nos anos 80 que prega a defesa armada dos privilégios dos ruralistas contra o MST (Movimento dxs trabalhadores rurais sem terra). Assim como a população negra, a população indígena vem compondo em números alarmantes o imenso arsenal de sem terras, sem teto, sem trabalho e sem comida.

Com as tais medidas decretadas pelo governo, a Funai perde a função de se manifestar, através de sua coordenadoria, contra licenciamentos de qualquer empreendimento que venha prejudicar os povos indígenas, seja culturalmente ou ambientalmente. Ou seja, os povos indígenas estão (declaradamente) entregues à própria sorte em uma guerra covarde por terras no Brasil. E como estratégia de camuflagem o presidente anuncia sua bondade e preocupação afirmando que “índio quer ser gente” e, portanto, precisamos higienizá-los na escola, universidade, igreja e demais instituições que operam como aparelhamento de controle na estrutura de discriminação cultural do nosso país (e continente), através da eficiente assimilação cultural que vem desarticulando, por exemplo, a luta negra por liberdade e igualdade de direitos ao longo da história, causando inclusive o nosso adoecimento mental como mais uma tática de genocídio.

Para se ter uma ideia de como o extermínio das populações indígenas sempre compôs explicitamente a sinfonia de progresso da nação, destaco um registro no Jornal do Brasil (Rj) de 1976 onde o ministro do interior Rangel Reis declara em entrevista que:

“Vamos procurar cumprir as metas fixadas pelo presidente Geisel para que, através de um trabalho concentrado entre vários ministérios, daqui a 10 anos possamos reduzir para 20 mil os 220 mil índios existentes no Brasil, e daqui a 30 anos, todos eles estarem devidamente integrados na sociedade nacional”. (Jornal do Brasil, primeiro caderno, Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1976).

Menos transparente em suas intenções através de suas declarações, o atual presidente está apenas dando seguimento aos antigos objetivos da minoria elite branca que governa este país.

Negras e negros são maioria populacional no Brasil e, junto aos povos indígenas lideramos os episódios de resistência e luta por direitos nesta nação. Precisamos sair do esconderijo da lamentação e nos unir em ações de auto defesa e enfrentamento à forte onda de opressão que se apresenta.

Como me ensinou a Cacique Pequena da comunidade Jenipapo Kanindé, precisamos reagir…

(Karla Vieira, mulher Preta Kariri)

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