Mês: maio 2019

TERRA PROMETIDA

Feito de areia movediça
Toda essa terra prometida ao povo Preto
Virei à esquerda mas percebi que lá
A igualdade era tão branca quanto os muros que a direita quis pintar
Entre as mulheres politicamente organizadas procurei um refúgio
Mas o chão que elas me deram pra limpar
Estava permanentemente muito sujo
Segui pela mata à caminho do Quilombo
Haviam muitas placas com letras negras de indicação
Escritas com a tinta branca da científica ilusão
Para entender as tais palavras de suposta liberdade
Era necessário colocar as lentes da evolucionista vaidade
Chegando ao final deste purificado caminho
Ao invés de Quilombo o que havia era um imenso labirinto
Diversos esqueletos negros espalhados pelo chão
Cada qual aprisionado ao quadradismo intelectual da solidão
Tudo muito confuso nas placas indicativas
Senzalas embranquecidas
Casas-Grandes enegrecidas
Construídas sobre o alicerce da absoluta certeza
De que representatividade era garantia de algum título de nobreza
Eram cativeiros disfarçados
Feitos para atrair Pretxs assimiladxs
Arranquei dos olhos as lentes da ciência
Que faziam de mim uma super mutante da clarividência
E me questionei sobre o evolucionismo espiritual
Onde a alma negra posta como primitiva
Necessitava percorrer pela estrada cativa
Até chegar à alva pureza angelical
Santificada pela supremacia branca auto proclamada como ideal
Fechei meus olhos para me contemplar
Pois já é chegada a hora de minha alma ao meu corpo retornar

Onde será que nascem as Estrelas?
Com quantos Tempos se constrói o caminho do seu brilho?

De olhos bem fechados
Sentindo a intensidade do meu sonho alado
Encontrarei as mãos da construção
Para tornar real a libertadora ação
Dos povos negros unidos e munidos
Reconhecendo ao outro dentro do seu próprio coração
E a Estrela farejante que me guia
Em silêncio assistia o meu andar pois já sabia
Que era esse o caminho necessário a percorrer
Para que seu brilho
Pudesse em minha alma renascer
É que semente de Estrela para conseguir brotar
Precisa de Terra fértil em alma celeste para o seu brilho germinar
O meu Quilombo é essa paz que me habita
E a linguagem que minha ancestralidade utiliza
Não é concebida e nem tão pouco traduzida por nenhum senhor
Pois ela percorre os diversos Tempos
Para falar verdadeiramente ao meu ouvido
Através do sagrado toque do tambor

(KaLua Sutil)